quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

New York Times publica defesa inglória do FBI de Comey (Única fonte: "Funcionários disseram")

1/1/2018, Moon of Alabama [atualizado]


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu


"As mais recentes revelações sobre as atividades partidarizadas de funcionários do FBI e do Departamento de Justiça deixam hoje bem claro que funcionários públicos cujo dever funcional é defender nosso sistema de leis estavam colaborando com a comunidade de inteligência sob a direção de Jim Clapper – com o objetivo de enganar membros do Congresso sobre uma suposta colusão entre a campanha de Donald Trump e os russos, sem jamais informar que a informação partira de uma 'pesquisa' encomendada pela Campanha de Clinton".
(de Blog Sic Temper Tyrannis incluído na nossa série "Brasília-BR & golpe é o bas-fond do bas-fond da CIA-com-STF-com-tudo")




Em julho de 2016, o FBI dirigido por James Comey iniciou uma investigação contra a campanha eleitoral de Donald Trump e a "influência russa" sobre ela.

Comey e o FBI estão pressionados para explicar por que iniciaram a tal investigação. Assumiu-se até aqui que a investigação teria sido iniciada por causa do dossiê Steele, inventado por um ex-agente britânico contratado pela campanha de Clinton, dossiê que foi entregue ao FBI e teria dado motivo à investigação.

Se for verdade (e provavelmente é), o FBI e Comey estão numa grave dificuldade. O dossiê é feito, do começo ao fim, de disse-que-disse e boatos os mais estúpidos. Foi obviamente montado com material falsificado pago pela opositora que concorria contra Trump. Usá-lo como ponto de partida oficial de uma investigação oficial contra candidato a eleição presidencial e a partir dele obter as autorizações legais necessárias para espionar a campanha de Trump fede a golpe eleitoral e talvez constitua crime.

Pois no sábado o New York Times apareceu com uma matéria redigida para espantar para longe essas indagações e garantir cobertura 'legal' para o FBI.

A manchete já diz ao leitor precisamente o que o jornal deseja que ele saiba e repita e em que deve acreditar: How the Russia Inquiry Began: A Campaign Aide, Drinks and Talk of Political Dirt [Como começou o inquérito russo: um assessor da campanha, bebida e conversas sobre imundícies políticas].


Atenção: percebam desde já que o NYT está 'informando' que a investigação no FBI não começou pelo dossiê Steele comprado pela campanha da Clinton

New York Times publica uma matéria selvagem, com detalhes épicos e grande quantidade de mentiras e bobagens para ofuscar e confundir o leitor. No centro da coisa aparece um membro de terceira classe da campanha de Trump, George Papadopoulos, que estava quase sempre em Londres quando se comunicava por e-mail com o pessoal da campanha nos EUA. Papadopoulos fazia serviço de conselheiro de política exterior e tentava construiu contatos entre a campanha e funcionários de governos estrangeiros. (Conseguiu acertar uma reunião entre Trump e Sisi, presidente do Egito.)

Nas palavras dos ficcionistas do New York Times:


"Durante uma noite de bebedeira pesada num luxuoso bar em Londres em maio de 2016, George Papadopoulos, jovem conselheiro de política exterior da campanha de Trump, fez uma surpreendente revelação a um alto diplomata da Austrália na Grã-Bretanha: a Rússia tinha sujeira política sobre Hillary Clinton.
(...) dois meses depois, quando começaram a aparecer online e-mails vazados dos Democratas, funcionários australianos passaram a informação sobre Papadopoulos aos seus contrapartes norte-americanos (...).
hacking e a revelação de que um membro da campanha de Trump poderia ter informação interna sobre aquilo, foram os fatores determinantes que levaram o FBI a iniciar uma investigação em julho de 2016 sobre as tentativas da Rússia para desvirtuar a eleição e para saber se havia conspiradores associados ao presidente Trump.


A ideia de que a boataria que cerca Papadopoulos, detalhada cuidadosamente na matéria do New York Times, teria disparado uma investigação no FBI não soa plausível.

Um baixo assessor de campanha de Trump, embriagado, diz a um diplomata australiano de baixo escalão que os russos têm imundícies sobre Clinton. Diz que teria ouvido de um misterioso Professor Mifsud que estava tentando criar um encontro Trump-Putin, na esperança de lucrar com o esforço. O professor não passava de uma espécie de impostor. Também teria conseguido um encontro para Papadopoulos com uma "sobrinha de Putin". Os irmãos de Putin morreram na infância, durante o cerco de Leningrado na 2ª Guerra Mundial – Putin não tem sobrinha. O que quer que Mifsud tenha dito foi provavelmente mentira. 

(ATUALIZAÇÃO: Alexander Mercouris diz que Papadopoulos mente sobre o que Mifsud contou-lhe.)

O embaixador australiano ouviu de Papadopoulos bêbado, que um professor esquisito dizia que teria ouvido de fontes russas que o Kremlin tinha sujeira sobre a Clinton. Dois meses depois, os australianos falam aos colegas norte-americanos sobre essa conversa. Quando a 'questão' chegou ao FBI, já era diz-que-diz de quarta mão:


Tão logo a informação que o Sr. Papadopoulos entregara ao diplomata australiano chegou ao FBI, o bureau abriu uma investigação que se tornou um de seus segredos mais bem guardados.


Quer dizer que querem que acreditemos que o FBI inicia investigações de alta octanagem política baseado em conversas de bêbados? Pessoalmente, isso tudo me parece implausível.

No início de julho de 2016, o ex-agente britânico Steele havia entregado as primeiras partes de seu dossiê a um agente do FBI em Roma. (Aqui se vê uma lista de anotações [orig. cheat sheet, lit. "folha de cola", como para usar em exames escolares (NTs)] sobre o dossiê e o sumário.) O dossiê naquele momento incluía uma suposta noite quentíssima no Ritz de Moscou, que o Kremlin poderia usar para chantagear Trump. Incluía também uma viagem de um tal Carter Page a Moscou. 

FBI abriu sua investigação depois de Steele ter mostrado seu dossiê a um agente do FBI. Mas o New York Times diz que a investigação não foi disparada pelo dossiê Steel. Diz que o gatilho teria sido algo que um diplomata australiano teria ouvido de um assessor embriagado, da campanha de Trump.

Em que se baseia o New York Times para essa 'notícia' tão implausível?


Uma equipe do FBI viajou à Europa para entrevistar Mr. Steele no início de outubro de 2016. Mr. Steele exibira algumas de suas descobertas a um agente do FBI, em Roma, três meses antes, mas aquela informação não foi incluída na justificação para iniciar uma investigação de contrainteligência, disseram funcionários norte-americanos.


E aí está: "disseram funcionários norte-americanos" é tudo que o New York Times tem a oferecer à guisa de 'prova'. A expressão "funcionários norte-americanos" no jargão da imprensa que cobre Washington inclui membros do Congresso e até o pessoal mais graduado dos respectivos gabinetes. "Funcionários disseram" que o dossiê Steele não seria a base das investigações do FBI; que a investigação começara de um diz-que-disse-que-disse de quarta mão.

A revelação de que o ponto mais importante da matéria publicada pelo New York Times – a qual a manchete grita como se ali houvesse algum fato – tem como único fundamento um boato de quarta mão que diz-que-disse que "funcionários disseram" – só aparece no parágrafo 40, de uma matéria de 51 parágrafos. Fica-se a imaginar quantos leitores terão lido até o parágrafo 40...

A ideia de que a 'notícia' do NYT é implausível também aparece sugerida em mais um fato. O FBI entrevistou oficialmente Steele, autor do dossiê comprado por Clinton, em outubro de 2016. E esperou até janeiro de 2017 para entrevistar Papadopoulos. Se o diz-que-disse ouvido de um Papadopoulos embriagado era tão importante a ponto de disparar a investigação (não o dossiê Steele), por que o FBI deixou-o esquecido durante todos aqueles meses?

A matéria do New York Times no sábado diz que a investigação pelo FBI sobre a campanha de Trump, supervisionada de perto pelo Diretor da Inteligência Nacional de Obama, James Clapper, baseou-se num boato saído de Londres, não no dossiê Steele. A única fonte que o NYT tem a apresentar para essa 'informação' é "funcionários disseram".

ATUALIZAÇÃO: Só em abril passado o New York Times falou de a investigação ter sido disparada pela viagem de Carter Page a Moscou, viagem já divulgada, mas também informada no dossiê Steele:


Desde que os investigadores do FBI descobriram em 2013 que um espião russo tentava recrutar um empresário norte-americano de nome Carter Page, o bureau manteve interesse ocasional emMr. Page. Assim, quando se tornou conselheiro de política externa da campanha de Trump ano passado, e fez discurso pró-Rússia num prestigioso instituto em Moscou, logo chamou a atenção do bureau.
Aquela viagem em julho passado foi um catalisador para a investigação do FBI na direção das conexões entre Rússia e a campanha do presidente Trump, segundo agentes anteriores e atuais da lei e funcionários da inteligência.


Mas, afinal, New York Times, o que disparou a investigação? A viagem de Carter Page ou o blábláblá de bêbado de George Papadopoulos? Ou foi mesmo o dossiê Steele, como o senador Lindsay Graham garante que teria sido? (FIM DA ATUALIZAÇÃO)

A longa matéria, publicada num fim de semana em que pouca gente teria tempo para examinar os detalhes, é obviamente tentativa de garantir cobertura ao FBI.

No mínimo, uma parte do FBI e do Departamento de Justiça estavam convencidos de que tinham de fazer de tudo, absolutamente qualquer coisa, para tornar impossível a vitória de Trump. E usaram as mentiras reunidas no dossiê que Clinton encomendou e pelo qual pagou, para justificar uma investigação sobre Trump e para espionar a campanha de Trump.

Foi atentado óbvio, executado por uma agência federal, buscando interferir a favor de uma das campanhas para a presidência dos EUA. Espera-se que cabeças rolem. Que os Republicanos no Congresso que estão investigando a questão abram pelo menos meio olho e deem-se conta de que têm de investigar a fundo e expor os culpados.

Mas como sempre... Por que não fingir que nada veem, e usar meios semelhantes na próxima eleição? Interessante ver como os Democratas se sentirão sobre a questão da legalidade, quando a mesa desabar sobre a cabeça deles.*****

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