sexta-feira, 11 de agosto de 2017

O Dilema Coreano

09.08.2017, Brain Cloughley - Strategic Culture




tradução de btpsilveira






Nas suas declarações públicas, o líder supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-un parece ser completamente psicótico e afastado de qualquer senso de realidade. Que outro líder mundial vem à sua mente ao ler esta descrição?
Bem, pelo menos Kim não tenta governar seu país e expressar seus insultos preferidos e uma política internacional peculiar tuitando platitudes ridículas nas primeiras horas do dia. Kim se circunscreve nas pontificações que faz sobre questões mundiais a vídeos oficiais que são encarados com um misto de horror, diversão e maus presságios pelos países regionais e condescendência misturada com paternalismo descrente pelas administrações dos Estados Unidos.
Um de seus pronunciamentos, em março de 2016 foi uma gracinha, mesmo pelos seus padrões e possivelmente foi motivo de um pouco de reflexão tanto no Pentágono quanto em Mar-a-Lago. Ele realizou um alerta de que “se os (norte)americanos imperialistas nos provocarem mais um pouco, não hesitaremos em desfechar uma ataque nuclear preventivo. Os Estados Unidos devem escolher!  Só depende de vocês se a nação chamada Estados Unidos continuará a existir no planeta ou não”.
Então há um ano o Secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson “desistiu das negociações” com a Coreia do Norte dizendo que “só podem ser obtidas com a desnuclearização, abrindo mãos de armas de destruição em massa”.
A declaração foi muito franca, mas em maio de 2017 houve algumas declarações “cuidadosamente pensadas” do presidente Trump, entre elas as observações de que o Sr. Kim é “um sujeitinho bem esperto” e que “se for de meu interesse uma reunião com ele, a farei – claro. Eu ficaria muito honrado”.
Estaríamos perdendo alguma coisa aqui? O porta voz da Casa Branca, Sean Spider, que foi recentemente demitido por falhar em ser ‘um sujeitinho bem esperto’, pensou que talvez houvesse algo estranho nas declarações de seu presidente e afirmou por sua vez que Washington precisa primeiro ver que a Coreia do Norte abandonou imediatamente seu comportamento provocativo e que “claramente, isso não esta acontecendo neste instante”. Mas… qual a mensagem que está sendo enviada para o maluco do Kim? Porque na realidade Spicer também declarou que Kim tem “obviamente trabalhado de forma a levar seu país avante. Apesar das preocupações lógicas que nós e muitas outras pessoas tenham, ele é uma pessoa jovem que lidera um país com armas nucleares”.

O que fez Kim para merecer um comentário tão absurdamente paternalista? Com certeza ele é seis anos mais jovem que o presidente francês Macron (e que Donald Trump Junior), e da mesma idade de Eric Trump, mas se existe algo que o Supremo Líder norte coreano absolutamente não quer ouvir é que ele é “uma pessoa jovem que lidera um país com armas nucleares”.
Talvez os membros arrogantes do establishment em Washington imaginem que os líderes de outras nações não prestam atenção ao que é dito a seu respeito, ou mesmo que não leem ou ouvem tais coisas, que ignoram os insultos ou que não se importam com eles. Pois não é verdade. Eles estão atentos. Já passou da hora em que mesmo os fanáticos funcionários da administração dos EUA devem entender que os comentários desairosos sobre presidentes, Ministros e outras figuras importantes de países estrangeiros servem apenas para aumentar a raiva contra os Estados Unidos e na verdade também para unir estes povos contra o poderoso intrometido de além mar.
Poucos dias depois dos “inteligentes” comentários de Trump sobe o “sujeitinho esperto” em primeiro de maio, o Senador dos Estados Unidos Cory Gardner veio com observações de que “trata-se de um louco maníaco no comando de um dos regimes nucleares mundiais – tentando ser um regime nuclear, Nós não temos que lisonjeá-lo nem honrá-lo para que ele concorde em negociações com os Estados Unidos, a menos que ele cumpra com suas obrigações e promessas”. Gardner não passa de um legislador, mas a Agência Central de Notícias da Coreia do Norte respondeu imediatamente com algumas invectivas fortes, assim você pode pensar que talvez os congressistas tenham entendido que não adianta insultar Kim e companhia, porque isso não os encoraja a mudar para um comportamento mais racional. Mas não. A seguir, o Senador John McCain se juntou ao time, chamando Kim de “um gordinho doido”.
O irônico comentário feito pela embaixadora dos Estados Unidos para a ONU sobre a Coreia do Norte em 06 de augusto, de que “basicamente, nós lhe demos um chute no estômago com sanções no valor de um bilhão de dólares” é outro exemplo de um abuso inimaginável. Os norte coreanos chutaram de volta com condenações e uma promessa de que sentarão à mesa de negociações com os Estados Unidos até que cessem as políticas agressivas. O que esperava essa estúpida da Haley? Que reação imagina ela que viria de Pyongyang como resposta dessas provocações inúteis e afirmações insultuosas de que as Nações Unidas (na verdade os Estados Unidos) “já avisaram as ditador da Coreia do Norte”?
Foi daí que o secretário Tillerson, o intelectual da diplomacia de Washington anunciou que na realidade os Estados Unidos podem sentar à mesa para conversações “quando as condições forem as corretas” para discutir “desnuclearização e passos que assegurem que a Coreia do Norte se sinta segura e próspera”. Declarou que “o melhor sinal que a Coreia do Norte pode nos fornecer de que estão se preparando para conversações é interromper seus lançamentos de mísseis. Não tivemos nenhum período de tempo mais extenso sem esse tipo de comportamento provocativo de lançamento de mísseis balísticos. Penso que esse seria o mais forte sinal que poderia nos ser enviado. Parar com os lançamentos de mísseis”.
Ele estava mandando publicamente que o psicótico Líder Supremo da Coreia do Norte interrompesse seus testes de mísseis balísticos. Mas, como seria previsível para qualquer um, menos para os ingenuamente arrogantes valentões de esquina que moram nas distantes nuvens sagradas washingtonianas, a Coreia do Norte na mesma hora prometeu se vingar de maneira “milhares de vezes” pior contra os Estados Unidos. Talvez Washington esperasse que o Líder Supremo Kim Jong-um anunciasse alguma coisa mais ou menos assim: “acabei de receber uma mensagem do grande Tillerson. Decidi parar imediatamente com os testes de mísseis. Beleza!”
Em uma mudança da água para o vinho, a verdade é que isso foi uma espécie de “ramo de oliveira” oferecido por Tillerson, exatamente ao contrário da declaração anterior da embaixadora Nikki Haley de que “o tempo de conversas já acabou”. Não é surpresa que ninguém consiga entender para que diabos de lado vão caminhando os Estados Unidos. É difícil esperar que os norte coreanos entendam o que está acontecendo, e o perigo é que o “gordinho maluco” de repente resolva provar que está fora do alcance do planeta. A coisa que mais preocupa é que pode levar milhões de pessoas com ele.
Junto com os insultos, espalham-se mensagens contraditórias, e isso não é maneira de exercer liderança internacional. Já passou da hora de Washington falar em uníssono e dizer exatamente quais as suas intenções quanto a um dos assuntos mais importantes da política internacional no momento. Mais importante que tudo: parar de abusar.
PS: exatamente quando terminava este artigo, fui informado de um notícia urgente através do Washington Post informando que os cientistas de Kim conseguiram produzir uma arma nuclear miniaturizada que pode ser levada por mísseis disponíveis na Coreia do Norte, “cruzando dessa forma o limiar para se tornar um poder nuclear de pleno direito”. Trump deveria interromper suas férias, parar de tuitar e voltar para a Casa Branca para fazer o seu trabalho.

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