domingo, 12 de março de 2017

Afinal, se não foi o Kremlin, quem levou Trump ao Poder?

06.03.2017, Jean Perier - New Eastern Outlook



tradução de btpsilveira





Temos visto meses a fio títulos como “O Kremlin colocou Trump no Poder” e “Moscou interfere nos assuntos internos de outros Estados”, e pelo andar da carruagem parece que o estoque de sensacionalismos dessa espécie é inesgotável na imprensa ocidental.  Bom. Para fazer o que já está ruim ainda pior, agora todos os tipos de políticos deram para fazer declarações similares, indicando que a recente campanha de demonizar a Rússia quer desesperadamente fazer pelo menos alguns pontinhos.

Chegamos ao ponto em que leitores enganados miseravelmente estão ultrajados com qualquer político europeu ou (norte)americano que seja acusado de ter ligações com a Rússia, mesmo sabendo que há outras figuras políticas com histórico escandaloso de apoio a terroristas. Sim, mas esses não são condenados.

Ninguém quer nem saber se todas as acusações recentes contra a Rússia não tem a menor base real em fatos, já que a imprensa ocidental resolveu fazer ouvidos moucos para todas as agências de inteligência do próprio ocidente, que afirmam que a assim chamada intervenção russa não passa de notícia falsa (fake news). Aqueles por trás dessa histeria toda estão interessados mesmo é em criar uma frente unida contra a Rússia, para receber amplo apoio aos seus interesses especiais (leia lucros), que crescem na mesma medida em que cresce o apoio à sua “causa”. Estamos vendo a tentativa de recriar a mesma velha histeria de Guerra Fria que no passado, fez os fornecedores de equipamento militar felizes com a abundância de contratos impulsionados pelo medo, financiados pelo abandono de programas sociais.

Já vimos tudo isso antes, mas o que permanece ainda sem resposta clara é que se não foi o Kremlin quem colocou Trump no trono, quem foi?


Vamos dar uma pequena olhada em dois pilares de sustentação que levaram adiante a campanha presidencial de Trump desde o primeiro dia. Um deles é Steve Bannon, antigo editor chefe e um dos fundadores da Breitbart News.  Um dos principais estrategistas ocidentais, nasceu em uma família de católicos irlandeses, que amiúde apoiaram o Partido Democrata. Formou-se em Planejamento Urbano, e então serviu na Marinha e subiu até a posição de Chefe de Gabinete no Pentágono. Depois da sua exoneração, Bannon adquiriu o mestrado e foi rapidamente contratado pela Goldman Sachs, tornando-se ao mesmo tempo produtor de filmes. Em 1990, Bannon, junto com colegas da Goldman Sachs, abriu seu primeiro Banco de Investimentos, Bannon & Cia, que oferecia aos consumidores investimentos em projetos de mídia.

O outro pilar de sustentação de Trump durante sua campanha presidencial foi o multibilionário Robert Mercer, que ostentou com orgulho a posição de terceiro maior doador para Trump no período que antecedeu a eleição. Ele é diretor executivo do fundo de investimentos Reinaissance Tecnologies. Em 2011, Mercer investiu 10 milhões de dólares na já mencionada Breitbart News.
Em apenas 10 anos, a Breitbart News se tornou um fenômeno da mídia, ostentando o primeiro lugar entre seguidores no Facebook e Twitter, entre todos os sites de mídia.

Não se deve esquecer que essas duas redes sociais na internet desempenharam um papel crucial na vitória de Trump. Para promover sua causa no Facebook, Trump investiu 56 milhões de dólares, enquanto tuitava regularmente em sua conta pessoal no Twitter.

Para entender melhor o papel que desempenharam na vitória de Trump a sua habilidade nas redes sociais, Bannon e Mercer, devemos recordar que as firmas ocidentais de Tecnologia de Informação estão coletando os assim chamados big data por anos a fio. Afinal de contas, tudo o que fazemos nos dias atuais, seja na internet ou em nossa vida comum, deixa um rastro digital. Pesquisas no Google, compras com cartão de crédito, online ou não, caminhadas ou viagens com um smartphone no bolso, atividades nas redes sociais – tudo está sendo coletado e arquivado. Por muito tempo, não se sabia como usar esse amontoado imenso de informações – a não ser pelos anúncios direcionados que vemos regularmente no facebook.

Hoje, podemos dizer com segurança que o sucesso da campanha de Trump se deve ao fato de que ele soube tirar vantagem dessas informações gigantescas e da Companhia que sabe como explorá-los – Cambridge Analytica. Esta companhia se especializou em uma nova forma de marketing político – chamada de microtargeting – baseado na metodologia OCEAN. Quando Trump resolveu contratar a Cambridge Analytica em junho de 2016, os analistas em Washington afirmaram que seria apenas um grão de sal no oceano, mas o resultado final foi impressionante. A companhia estava comprando todo tipo de informação sobre futuros eleitores, desde quais jornais ele assina até seus registros médicos.

No final das contas, você pode obter quase qualquer tipo de informação sobre seja lá quem for nos dias de hoje. Daí a Cambridge Analytica simplesmente adicionou todos esses dados a uma listagem de eleitores republicanos junto com as informações sobre seus comportamentos dentro de redes sociais. Dessa forma, Trump sabia exatamente o que supostamente deveria dizer aos seus eleitores em potencial para conquistar seus votos. Esse tido de abordagem estava por trás da razão da espantosa subida do senador Ted Cruz na campanha republicana para a indicação do candidato presidencial. Não é para menos, desde que a Analytica estava trabalhando para Ted Cruz de todas as maneiras possíveis. Aliás, ele era apoiado pelo mesmo bilionário... Robert Mercer.

A revista suíça Das Magazin publicou uma investigação detalhada sobre como os manejadores de big data afetaram tanto a votação do Brexit quanto a Eleição Presidencial (norte)Americana.



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