sábado, 12 de novembro de 2016

Paul Craig Roberts: Protestos contra Trump são apenas ferramentas da oligarquia

12.11.2016, Paul Craig Roberts


tradução btpsilveira


“Reformas sempre causam raiva naqueles que lucravam com a velha ordem”. Arthur M. Schlesinger Jr., A Crise da Velha Ordem.


Quem são os manifestantes que envergonham o nome dos progressistas ao fingir que são progressistas e recusar a aceitação do resultado da eleição presidencial? Eles se parecem com, mas agem ainda pior que a “escória branca” que supostamente denunciam.
Penso saber quem são eles. São mercenários pagos pela oligarquia para tentar minar a legitimidade da presidência Trump da mesma forma que Washington e o Fundo Marshall alemão pagaram estudantes em Kiev para protestar contra o governo ucraniano democraticamente eleito, preparando o terreno para o golpe.
A organização change.org, que apesar de afirmar ser um grupo progressista parece mais uma frente para a oligarquia, ao lado de outros grupos similares, está destruindo a reputação de todos os progressistas ao fazer circular uma petição dirigida aos delegados do Colégio Eleitoral para anular a eleição lançando de seus votos para Hillary. Lembram de como os progressistas ficaram indignados quando Trump disse que poderia não aceitar o resultado da eleição se houvesse evidência de ter ela sido fraudada? Pois agora os progressistas estão fazendo o que condenaram em Trump, por ter este dito o que faria sob certas condições.

A imprensa prostituta do  ocidente usou os protestos em Kiev para minar a legitimidade de um governo democraticamente eleito e manejar os protestos na intenção de um golpe de estado. O protesto foi tão bem pago que cidadãos não ucranianos vieram de países vizinhos para participar as ações e ganhar um dinheirinho. Naquela época, postei quais as quantias pagas aos manifestantes. Fui informado por fontes da Europa Oriental e Ocidental sobre pessoas que não eram ucranianas e que foram pagas para protestar como se fossem.
A mesma coisa está acontecendo nos protestos contra Trump. A CNN informa que “para muitos (norte)americanos através do país, a vitória de Trump é um resultado que eles simplesmente se recusam a aceitar. Dezenas de milhares de pessoas encheram as ruas em ao menos 25 cidades dos Estados Unidos durante a noite”. É exatamente o tipo de informação que a oligarquia gostaria de estar vendo pela imprensa.
Bem. Espero que ninguém possa pensar seriamente que protestos simultâneos poderiam acontecer espontaneamente em 25 cidades. Como poderiam 25 protestos independentes acontecer usando os mesmos slogans e os mesmos signos, na mesma noite depois das eleições? 
Qual é o objetivo das manifestações, e elas servem a quem? Como sempre perguntavam os romanos, “quem se beneficia?” – (referência à expressão latina “cui bono?” ou “cui prodest?” – significando que alguém tem alguma coisa a lucrar com determinado evento - NT)
Só há uma resposta: os beneficiados são os representantes da oligarquia. Apenas eles.
Acontece que Trump é uma séria ameaça para a oligarquia, porque pretende dar um fim na exportação dos empregos dos (norte)americanos para os estrangeiros. O redirecionamento do trabalho, santificado pelos economistas trambiqueiros neoliberais como “livre comércio” é uma das principais razões da piora na distribuição de renda nos Estados Unidos. O dinheiro que antes era pago para a classe média na forma de vencimentos e salários para os empregados nas manufaturas e para os recém formados tem sido desviado diretamente para os bolsos do 1%.
Quando as grandes corporações dos Estados Unidos levam a sua produção de bens e serviços vendidos para os (norte)americanos para fora, até países estrangeiros como China e Índia, seus encargos trabalhistas caem. O dinheiro que anteriormente era pago em receita para a classe média se transforma em bônus e dividendos para executivos e ganho de capital para os acionistas. As escadas de mobilidade ascendente que fez dos Estados Unidos a terra das oportunidades foi desmantelada apenas para tornar um punhado de pessoas multibilionários.
Trump representa uma ameaça para a oligarquia, porque pretende pacificar as relações com a Rússia. Para reviver a lucrativa “Ameaça Soviética”, a oligarquia e seus agentes neoconservadores trabalham em regime de horas extras para recriar a “Ameaça Russa”, através da demonização daquele país.
Viciados por décadas de lucros exorbitantes carreados através da rentável Guerra Fria, o complexo exército/segurança ficou insano quando o Presidente Reagan deu um fim a esse estado de coisas. Antes que estes sanguessugas dos contribuintes (norte)americanos pudessem colocar a Guerra Fria na pauta novamente, a União Soviética entrou em colapso como resultado de um golpe da extrema direita contra o presidente soviético Mikhail Gorbachev.
O complexo exército/segurança e seus agentes neoconservadores sionistas inventaram “a guerra ao terror”, para fazer o dinheiro continuar fluindo para o 1%. Mas por mais que a imprensa prostituta tenha trabalhado para criar o medo da “ameaça muçulmana”, até os (norte)americanos ingênuos ao extremo sabem que os muçulmanos não têm milhares de ICBMs carregando poderosas armas termonucleares capazes de destruir os Estados Unidos em alguns minutos. Nem tem um Exército Vermelho capaz de invadir toda a Europa em alguns dias. Na realidade, os muçulmanos não precisam de um exército. Refugiados que resultaram das guerras de Washington permitidas e apoiadas pelos europeus estão invadindo a Europa.
A desculpa para o gigantesco orçamento de um trilhão de dólares (são 1.000 bilhões de dólares) anuais do complexo exército/segurança estava desaparecendo. Daí os oligarcas criaram um “novo Hitler” na Rússia. O principal agente dos oligarcas para esquentar a Nova Guerra Fria foi ninguém menos que Hillary Clinton.
Hillary é a ferramenta, enriquecida pelos oligarcas, cujo trabalho como presidente seria a proteção e mesmo o crescimento do orçamento de um trilhão de dólares do complexo exército/segurança. Com Hillary na Casa Branca, o saque praticado contra os contribuintes (norte)americanos para tornar ainda mais ricos o 1% poderia continuar livremente. Porém, caso Trump resolva a “Ameaça Russa”, os oligarcas terão uma queda em suas receitas.
Como presidente, Hillary também deveria privatizar a Previdência Social para que seus benfeitores em Wall Street pudessem roubar os (norte)americanos da mesma maneira que eles têm sido roubados pelas seguradoras sob o Obamacare.

Os (norte)Americanos, que erradamente não prestaram atenção, pensam que o FBI inocentou Hillary pela violação dos protocolos da Segurança Nacional ao manejar seus e-mails. O FBi disse que Hillary violou sim a Segurança Nacional, mas que isso foi o resultado ou de falta de cuidado ou de simples ignorância. Ela escapou do indiciamento porque o FBI concluiu que ela não violou INTENCIONALMENTE os protocolos da Segurança Nacional. A investigação contra a Fundação Clinton continua.


Em outras palavras, para proteger Hillary, o FBI ressuscitou um preceito legal antigo que diz que “não pode haver crime sem intenção”. [Veja Paul Craig Roberts e Lawrence Stratton no livro The Tyranny of good intentions – A tirania das boas intenções – NT – traduziríamos livremente como: De boas intenções o inferno está cheio J]

Qualquer um poderia raciocinar que se os manifestantes fossem legítimos, deveriam estar celebrando a vitória de Trump. Ele, ao contrário de Hillary, promete reduzir as tensões com a Rússia, e esperamos que também com a China. Diferente de Hillary, ele disse que está preocupado com a ausência de perspectiva de carreira para aquele mesmo povo que está protestando nas ruas em 25 cidades contra ele.
Em outras palavras, os protestos contra o povo (norte)Americano por ter eleito Trump como seu presidente não tem sentido. Os protestos só estão acontecendo por uma razão: os oligarcas querem deslegitimizar a presidência Trump. Uma vez que Trump tenha perdido a legitimidade, será fácil para a oligarquia assassiná-lo. A menos que a oligarquia possa nomear e controlar todo o governo Trump, ele é um excelente candidato a ser morto.
Os protestos contra Trump também são estranhos por outra razão. Ao contrário de Obama, Hillary e George W. Bush, Donald Trump nunca massacrou e deslocou milhões de pessoas em sete países, mandando milhões de refugiados de suas guerras para invadir a Europa.
Trump ganhou sua fortuna, de uma forma ou de outra, mas com certeza não foi vendendo a influência da governança (norte)americana para agentes estrangeiros como fizeram Hillary e Bill Clinton.
Então, porque diabos estão protestando os manifestantes?
Não há resposta, a não ser a de que estão sendo pagos para protestar. Aliás, foi justamente isso o que aconteceu nos protestos de Maidan, em Kiev, quando os manifestantes foram pagos para protestar por ONGs financiadas pela Alemanha e pelos Estados Unidos.
Também não tinham sentido os protestos em Kiev, visto que as eleições presidenciais tinham acontecido apenas alguns meses antes. Caso os ucranianos realmente acreditassem que seu presidente estava conspirando com a Rússia para evitar que o país se tornasse um fantoche do ocidente e realmente quisessem tornar a Ucrânia um capacho a qualquer custo, a oportunidade estava bem à mão. Bastaria votar neste sentido. A única razão plausível para os protestos foi a orquestração para um golpe de estado. Os Estados Unidos tiveram sucesso em colocar seu agente no controle do novo governo ucraniano, como explicitado por Victoria Nuland e o embaixador dos Estados Unidos em Kiev, fato confirmado por sua conversação por telefone que está disponível na Internet.
A não ser para tornar possível um golpe de estado, não há razão para os protestos de Maidan. Os manifestantes foram sem dúvida manejados por Washington, através da Secretária Assistente do Estado Victoria Nuland, uma neoconservadora trazida para o Departamento de Estado por Hillary Clinton, com o claro objetivo de criar conflitos com a Rússia.
Os protestos contra Trump estão na ordem do dia apenas para torna-lo vulnerável caso ele se prove uma ameaça para a oligarquia como se considera hoje.
Apesar de Trump ter vencido a corrida presidencial, os oligarcas ainda estão no poder, o que pode fazer com que reformas reais sejam difíceis de alcançar. Reformas meramente simbólicas podem ser o resultado do confronto entre o presidente Trump e os oligarcas.
Através de experiências históricas, Karl Marx aprendeu, e Lenin, Stalin e Pol Pot aproveitaram seu aprendizado, que nenhuma mudança real pode acontecer se a classe dominante deslocada do poder for deixada intacta depois de uma revolução contra ela. Tivemos inúmeras provas pipocando através da América do Sul. Todas as revoluções dos povos indígenas deixaram inatacadas as classes dominantes espanholas, e todas essas revoluções foram derrubadas pela colusão entre as classes dominantes e Washington.
Washington conspirou com as elites tradicionais para remover presidentes eleitos de Honduras em várias ocasiões. Recentemente, Washington ajudou as elites a expulsar as presidentes da Argentina e do Brasil. Os presidentes da Venezuela, Equador e da Bolívia estão na alça de mira e provavelmente não resistirão. Washington está determinada a colocar as mãos em Julian Assange. Para conseguir isso, pretende derrubar o governo do Equador que, em desafio aberto, deu asilo político para Assange.
Hugo Chavez tinha o poder para exilar ou exterminar as elites espanholas dominantes na Venezuela quando participaram de um golpe em conluio com a CIA contra Chavez. Mas antes que a CIA pudesse matar Chavez, o povo e o exército forçaram sua libertação. Ao invés de punir exemplarmente os criminosos que queriam mata-lo, deixou-os ir em paz.
De acordo com Marx, Lenin e Stalin, esse é o erro clássico das revoluções. Confiar na honestidade e boa vontade da classe dominante momentaneamente derrotada é caminho seguro para a derrota da revolução logo adiante.
A América Latina provou não ter aprendido a lição: Revoluções não podem conciliar.
Trump é um negociador. A elite talvez lhe possa permitir que goze do brilho do sucesso, se em troca ele não fizer qualquer mudança real.
Evidentemente, Trump não é perfeito. Pode muito bem errar sozinho. Mas assim mesmo nós devemos prestar toda ajuda possível quanto aos dois mais importantes tópicos de seu programa: reduzir as tensões entre poderes nucleares e interromper as políticas que estão permitindo que a globalização destrua o futuro econômico dos (norte)americanos.
Caso as tensões entre as potências nucleares piorem ainda mais, não estaremos mais aqui para nos preocuparmos com economias ou o que seja. Mas economicamente a combinação entre imigração e uma economia devastada é o pesadelo perfeito. Isso Trump é capaz de entender. Por isso, merece nosso apoio.
Nota: Há quem acredite quer Trump não passa de uma espécie de estratagema dos oligarcas. Porém como Hillary já havia sido comprada e paga como representante da oligarquia, não haveria necessidade de um truque tão elaborado e complicado. A oligarquia poderia ganhar com sua própria candidata, com uma plataforma amigável e não instalar no poder um presidente de tendências opostas para depois se esfalfar para fazê-lo mudar o rumo do próprio pensamento. Mais um político de alto nível comprado pela oligarquia só faria aumentar a raiva popular. Caso Hillary tivesse saído vencedora, os oligarcas teriam sua própria candidata, plataforma e mandato.

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